domingo, 21 de agosto de 2011

Patologias Proctológicas - HEMORRÓIDAS

Patologias Proctológicas



Iniciaremos nosso blog discursando acerca das principais patologias ano-retais. Tentaremos de forma simples e objetiva explicar e demonstrar que por vezes, muitas pessoas tem determinados sintomas, mas por vergonha ou acreditar que “Não é nada, vai passar...”, as pessoas retardam uma consulta médica e consequentemente um diagnóstico e tratamento. Desta forma, todos devem sempre contactar o seu médico especialista para permitir um diagnóstico correto e o tratamento eficaz.








Então vamos lá...














 HEMORRÓIDAS


A doença hemorroidária é a afecção de maior prevalência em coloproctologia, estima-se que nos países industrializados, aproximadamente 40% das pessoas com mais de 40 anos de idade, tem ou já tiveram alguns de seus sintomas.





Estes são

- Sangramento
- Prolapso
- Desconforto
- Prurido e Ardência anal
- Perda de muco

Sintomas estes que prejudicam em muito a qualidade de vida de seus portadores, e mesmo assim, 30% a 40% das pessoas não procuram atendimento médico, com receio e medo de necessitarem de cirurgia, que tem o estigma de ser muito dolorosa.

Fato este muito perigoso, pois leva ao atraso do diagnóstico e tratamento da patologia.


A doença hemorroidária é caracterizada pelas dilatações dos plexos venosos hemorroidários, localizados no interior do canal anal, podendo exteriorizar-se.



São divididas em

- Hemorróidas Internas – Dilatações do plexo superior, dentro do canal anal. Geralmente são em número de 3 mamilos, sendo 2 a direta e 1 a esquerda.

- Hemorróidas Externas – Dilatações do plexo inferior, no subcutâneo, logo na entrada do ânus.





Os mamilos hemorroidários são encontrados em ambos os sexos, nas mais variadas faixas etárias. E podem estar presentes em indivíduos assintomáticos, porém quando apresentam sintomas, são considerados Doença Hemorroidária e necessitam de tratamento.

   




CLASSIFICAÇÃO



As hemorróidas internas são classificadas em 4 graus de acordo com a intensidade dos sintomas
 


1º Grau: Sangramento sem prolapso


2º Grau: Sangramento e prolapso durante o esforço evacuatório e retorno espontâneo do prolapso



3º Grau: Sangramento e prolapso que requer manobras digitais para o retorno do prolapso



4º Grau: Sangramento e as hemorróidas estão sempre exteriorizadas, sem possibilidade de retorno do prolapso




As hemorróidas externas podem receber a denominação de mariscos ou hemorróidas cutâneas podendo ocasionar dor intensa quando trombosadas.



A presença do sangramento as evacuações é frequente na doença hemorroidária, entretanto os pacientes SEMPRE deverão procurar um médico especialista para confirmar o diagnóstico, bem como afastar outras patologias coloproctológicas, que também sangram, como por exemplo o Câncer do Intestino.





TRATAMENTO



Os princípios do tratamento das Hemorróidas são:


 
1 - Medidas Dietéticas



O paciente é estimulado a ter uma dieta rica em fibras (ingestão diária de 20g a 25g/ dia). Deverá se alimentar com verduras cruas, cozidas, legumes, cereais e frutas (laranja, mamão, ameixa). Além disso, poderá necessitar de suplementação com fibras comerciais disponíveis no mercado.






Um ponto muito importante a ser ressaltado é com relação a hidratação, o paciente deve ser orientado a ingerir no mínimo 2 litros de água por dia (10 copos d’água).



O paciente deve suprimir a ingestão de álcool, pimentas e condimentos, dada sua ação irritante sobre a mucosa intestinal.



Deverá diminuir a ingestão de alimentos constipantes (carbohidratos em geral). E medicamentos que causem prisão de ventre (antiácidos, antidepressivos, etc).

2 - Medidas Comportamentais

Deve-se sempre obedecer o desejo evacuatório ( Não “segurar”).


Fazer caminhadas leves, pois estimula os movimentos intestinais.











3 – Cuidados Locais

Abolir por completo o uso de papel higiênico, devendo ser substituído pela higiene com água.






4 – Tratamento Clínico



As pomadas e supositórios com componentes anestésicos, antiinflamatórios e analgésicos, tem sido muito utilizados na pratica clínica diária, por produzirem alívio da dor e desconforto local.



Medicações orais vaso-ativas ( Diosmina, Hesperidina, troxerrutina e cumarina), tem efeitos na diminuição do edema congestivo nas tromboses hemorroidárias, auxiliando e muito no alívio dos sintomas.



Analgésicos, antiinflamatórios e antibióticos orais estão indicados nos casos de intenso processo inflamatório/infeccioso local.





5 – Tratamento Ambulatorial



As hemorróidas internas de 1º grau e 2º grau, que não respondem satisfatoriamente ao tratamento clínico, poderão ser tratadas por métodos ambulatórias, tais como



- Esclerose



- Ligaduras elásticas



- Fotocoagulação por raios infra-vermelhos (Infrared)



Com bons resultados em 80% dos casos.






6 – Tratamento Cirúrgico









O tratamento cirúrgico esta indicado em aproximadamente 15% a 20% dos casos, ficando reservado para as hemorróidas muito sintomáticas e avançadas (3º e 4º Graus) e hemorróidas de 2º grau que não melhoraram com tratamento conservador, também nos casos com complicações (tromboses, pseudoestrangulamento e tromboflebites).



Importante ressaltar que o tratamento cirúrgico, é o único capaz de erradicar permanentemente a doença hemorroidária.

A combinação de indicação cirúrgica criteriosa, técnica operatória apurada e cuidados pós-operatórios adequados, são indispensáveis para a obtenção de bons resultados cirúrgicos.

A falha de um dos fatores acima, pode resultar em frustração para o paciente e para o cirurgião.



O objetivo primordial do tratamento cirúrgico na doença hemorroidária é a extirpação dos mamilos hemorroidários exuberantes e doentes, com seus respectivos plicomas (rugas anais), de forma delicada, evitando deste modo complicações tais como:



- Hemorragia no pós-operatório

- Dor

- Estenose anal

- Incontinência fecal



Sendo os dois últimos, muito graves e de difícil correção.



Apesar do grande número de técnicas cirúrgicas descritas, basicamente podemos dividi-las em dois grandes grupos:



1- Técnicas com Remoção das Hemorróidas



Técnica Aberta - Milligan-Morgan





Técnica Fechada – Ferguson









Técnicas Mistas – Semi aberta/fechada









2 – Técnicas sem Remoção das Hemorróidas





- GRAMPEAMENTO por PPH



O grampeamento por PPH é uma técnica descrita pela primeira vez pelo Dr. Antônio Longo em 1998 (Palermo – Itália), é indicado para a correção da doença hemorroidária associada ao prolapso mucoso anal.


PPH Antes

PPH Durante









PPH Depois




VIDEO ILUSTRATIVO
(ETHICON ENDO-SURGERY)










- THD


(Desarterialização Hemorroidaria Transanal)



Desarterialização e Hemorroidopexia









Na última década, com a utilização de Ultrasson e Doppler, pôde-se entender melhor a fisiopatologia da doença hemorroidária, e constatou-se a presença de hiperfluxo arterial (hipertensão das artérias hemorroidárias), com comunicações arterio-venosas (Shunts), gerando uma congestão das veias com conseqüente estase, edema, dilatação e prolapso de mucosa, ou seja as Hemorróidas.



Em virtude disso, surgiu uma nova técnica desenvolvida na Itália pelo Dr. Carlo Ratto (Roma), que preconiza a ligadura dos ramos arteriais hemorroidários (DESARTERIALIZAÇÃO) e fixação das hemorróidas prolapsadas no interior do canal anal (HEMORROIDOPEXIA). Isso se faz com a utilização de um equipamento descartável chamado THD.










Por não realizar incisões teciduais (”cortes”), esta técnica causa menor trauma e consequentemente diminuição expressiva da dor no pós operatório, e retorno mais precoce as atividades habituais.







VIDEO ILUSTRATIVO
(THD LAB)








No próximo post falaremos sobre FÍSTULAS ANAIS


até breve...



























- Sobrado CW. Doença Hemorroidária. In Silva Jh, Editor. Manual de Coloproctologia da APM. São Paulo. 2000, 137-50.




- Sobrado CW, Cotti GCC, Coelho FF, Rocha JRM, Initial experience with Stapled Hemorrohoidopexy for treatments of Hemorroids. Arq Gastroenterol 2006; 43 (3): 238-242


- Ratto C, Donisi L, Parello A, et all. Evaluation of transanal hemorrhoidal Dearterialization as Minimally Invasive Therapeutic Approach to Hemorrhoids. Dis Colon Rectum. 2010; 53: 803-11