Patologias Proctológicas
Iniciaremos nosso blog discursando acerca das principais patologias ano-retais. Tentaremos de forma simples e objetiva explicar e demonstrar que por vezes, muitas pessoas tem determinados sintomas, mas por vergonha ou acreditar que “Não é nada, vai passar...”, as pessoas retardam uma consulta médica e consequentemente um diagnóstico e tratamento. Desta forma, todos devem sempre contactar o seu médico especialista para permitir um diagnóstico correto e o tratamento eficaz.
Então vamos lá...
HEMORRÓIDAS
A doença hemorroidária é a afecção de maior prevalência em coloproctologia, estima-se que nos países industrializados, aproximadamente 40% das pessoas com mais de 40 anos de idade, tem ou já tiveram alguns de seus sintomas.
Estes são
- Sangramento
- Prolapso
- Desconforto
- Prurido e Ardência anal
- Perda de muco
Sintomas estes que prejudicam em muito a qualidade de vida de seus portadores, e mesmo assim, 30% a 40% das pessoas não procuram atendimento médico, com receio e medo de necessitarem de cirurgia, que tem o estigma de ser muito dolorosa.
Fato este muito perigoso, pois leva ao atraso do diagnóstico e tratamento da patologia.
São divididas em
- Hemorróidas Internas – Dilatações do plexo superior, dentro do canal anal. Geralmente são em número de 3 mamilos, sendo 2 a direta e 1 a esquerda.
- Hemorróidas Externas – Dilatações do plexo inferior, no subcutâneo, logo na entrada do ânus.
Os mamilos hemorroidários são encontrados em ambos os sexos, nas mais variadas faixas etárias. E podem estar presentes em indivíduos assintomáticos, porém quando apresentam sintomas, são considerados Doença Hemorroidária e necessitam de tratamento.
CLASSIFICAÇÃO
As hemorróidas internas são classificadas em 4 graus de acordo com a intensidade dos sintomas
1º Grau: Sangramento sem prolapso
2º Grau: Sangramento e prolapso durante o esforço evacuatório e retorno espontâneo do prolapso
3º Grau: Sangramento e prolapso que requer manobras digitais para o retorno do prolapso
4º Grau: Sangramento e as hemorróidas estão sempre exteriorizadas, sem possibilidade de retorno do prolapso
As hemorróidas externas podem receber a denominação de mariscos ou hemorróidas cutâneas podendo ocasionar dor intensa quando trombosadas.
A presença do sangramento as evacuações é frequente na doença hemorroidária, entretanto os pacientes SEMPRE deverão procurar um médico especialista para confirmar o diagnóstico, bem como afastar outras patologias coloproctológicas, que também sangram, como por exemplo o Câncer do Intestino.
TRATAMENTO
Os princípios do tratamento das Hemorróidas são:
1 - Medidas Dietéticas
O paciente é estimulado a ter uma dieta rica em fibras (ingestão diária de 20g a 25g/ dia). Deverá se alimentar com verduras cruas, cozidas, legumes, cereais e frutas (laranja, mamão, ameixa). Além disso, poderá necessitar de suplementação com fibras comerciais disponíveis no mercado.
Um ponto muito importante a ser ressaltado é com relação a hidratação, o paciente deve ser orientado a ingerir no mínimo 2 litros de água por dia (10 copos d’água).
O paciente deve suprimir a ingestão de álcool, pimentas e condimentos, dada sua ação irritante sobre a mucosa intestinal.
Deverá diminuir a ingestão de alimentos constipantes (carbohidratos em geral). E medicamentos que causem prisão de ventre (antiácidos, antidepressivos, etc).
2 - Medidas Comportamentais
Deve-se sempre obedecer o desejo evacuatório ( Não “segurar”).
3 – Cuidados Locais
Abolir por completo o uso de papel higiênico, devendo ser substituído pela higiene com água.
4 – Tratamento Clínico
As pomadas e supositórios com componentes anestésicos, antiinflamatórios e analgésicos, tem sido muito utilizados na pratica clínica diária, por produzirem alívio da dor e desconforto local.
Medicações orais vaso-ativas ( Diosmina, Hesperidina, troxerrutina e cumarina), tem efeitos na diminuição do edema congestivo nas tromboses hemorroidárias, auxiliando e muito no alívio dos sintomas.
Analgésicos, antiinflamatórios e antibióticos orais estão indicados nos casos de intenso processo inflamatório/infeccioso local.
5 – Tratamento Ambulatorial
As hemorróidas internas de 1º grau e 2º grau, que não respondem satisfatoriamente ao tratamento clínico, poderão ser tratadas por métodos ambulatórias, tais como
- Esclerose
- Ligaduras elásticas
- Fotocoagulação por raios infra-vermelhos (Infrared)
Com bons resultados em 80% dos casos.
6 – Tratamento Cirúrgico
O tratamento cirúrgico esta indicado em aproximadamente 15% a 20% dos casos, ficando reservado para as hemorróidas muito sintomáticas e avançadas (3º e 4º Graus) e hemorróidas de 2º grau que não melhoraram com tratamento conservador, também nos casos com complicações (tromboses, pseudoestrangulamento e tromboflebites).
Importante ressaltar que o tratamento cirúrgico, é o único capaz de erradicar permanentemente a doença hemorroidária.
A combinação de indicação cirúrgica criteriosa, técnica operatória apurada e cuidados pós-operatórios adequados, são indispensáveis para a obtenção de bons resultados cirúrgicos.
A falha de um dos fatores acima, pode resultar em frustração para o paciente e para o cirurgião.
O objetivo primordial do tratamento cirúrgico na doença hemorroidária é a extirpação dos mamilos hemorroidários exuberantes e doentes, com seus respectivos plicomas (rugas anais), de forma delicada, evitando deste modo complicações tais como:
- Hemorragia no pós-operatório
- Dor
- Estenose anal
- Incontinência fecal
Sendo os dois últimos, muito graves e de difícil correção.
Apesar do grande número de técnicas cirúrgicas descritas, basicamente podemos dividi-las em dois grandes grupos:
1- Técnicas com Remoção das Hemorróidas
Técnica Aberta - Milligan-Morgan
Técnica Fechada – Ferguson
Técnicas Mistas – Semi aberta/fechada
2 – Técnicas sem Remoção das Hemorróidas
- GRAMPEAMENTO por PPH
O grampeamento por PPH é uma técnica descrita pela primeira vez pelo Dr. Antônio Longo em 1998 (Palermo – Itália), é indicado para a correção da doença hemorroidária associada ao prolapso mucoso anal.
PPH Antes
PPH Antes
VIDEO ILUSTRATIVO
(ETHICON ENDO-SURGERY)
- THD
(Desarterialização Hemorroidaria Transanal)
Desarterialização e Hemorroidopexia
Desarterialização e Hemorroidopexia
Na última década, com a utilização de Ultrasson e Doppler, pôde-se entender melhor a fisiopatologia da doença hemorroidária, e constatou-se a presença de hiperfluxo arterial (hipertensão das artérias hemorroidárias), com comunicações arterio-venosas (Shunts), gerando uma congestão das veias com conseqüente estase, edema, dilatação e prolapso de mucosa, ou seja as Hemorróidas.
Em virtude disso, surgiu uma nova técnica desenvolvida na Itália pelo Dr. Carlo Ratto (Roma), que preconiza a ligadura dos ramos arteriais hemorroidários (DESARTERIALIZAÇÃO) e fixação das hemorróidas prolapsadas no interior do canal anal (HEMORROIDOPEXIA). Isso se faz com a utilização de um equipamento descartável chamado THD.
Por não realizar incisões teciduais (”cortes”), esta técnica causa menor trauma e consequentemente diminuição expressiva da dor no pós operatório, e retorno mais precoce as atividades habituais.
VIDEO ILUSTRATIVO
(THD LAB)
No próximo post falaremos sobre FÍSTULAS ANAIS
até breve...
- Sobrado CW. Doença Hemorroidária. In Silva Jh, Editor. Manual de Coloproctologia da APM. São Paulo. 2000, 137-50.
- Sobrado CW, Cotti GCC, Coelho FF, Rocha JRM, Initial experience with Stapled Hemorrohoidopexy for treatments of Hemorroids. Arq Gastroenterol 2006; 43 (3): 238-242
- Ratto C, Donisi L, Parello A, et all. Evaluation of transanal hemorrhoidal Dearterialization as Minimally Invasive Therapeutic Approach to Hemorrhoids. Dis Colon Rectum. 2010; 53: 803-11